“O coração é o monarca. Ele comanda o Shen (espírito).”
(HUÁNG DÌ NÈI JĪNG SÙ WÈN, cap. 8)
Já mapeamos os alicerces do nosso império interior: os Três Tesouros, a dança do Yin e do Yang, os ciclos dos Cinco Movimentos e as Substâncias Vitais que nos constroem. Ademais, conhecemos o hardware (Jing), a eletricidade (Qi) e o sistema operacional (Shen). Agora, vamos falar sobre o usuário, o operador desta máquina magnífica: a nossa própria mente e a Força da Intenção na mobilização do Qi.
Na visão da medicina chinesa, a mente não é uma passageira passiva no veículo do corpo. Pelo contrário, ela é o piloto. A consciência não apenas observa, ela participa, direciona e, fundamentalmente, comanda. Este capítulo é dedicado a uma das ideias mais profundas e poderosas da MTC: a de que a nossa intenção é uma força ativa, capaz de mobilizar a energia e, consequentemente, transformar a nossa realidade física.
Se o Shen (神), abrigado no Coração, é o nosso imperador, a consciência suprema, então o Yi (意) é o seu foco, o seu poder de concentração, a sua intenção direcionada. O Yi é frequentemente traduzido como “intenção”, “pensamento” ou “intelecto”. Ele representa nossa capacidade de focar, estudar, memorizar, concentrar e gerar ideias.
Enquanto o Shen reside no Coração, o palácio do Yi é o Baço (脾). Esta associação é uma das chaves mestras para entender a psicossomática na MTC. Logo, o Baço, como veremos em detalhes mais à frente, é o órgão responsável pela transformação e transporte dos nutrientes que extraímos dos alimentos. Da mesma forma, ele é responsável pela “digestão” e “transformação” das informações e pensamentos.
Já sentiu “borboletas no estômago” ao se preocupar com uma prova? Ou perdeu o apetite por pensar demais em um problema? Essa é a conexão direta entre o Yi e o Baço em ação. Como aponta Giovanni Maciocia, “pensar em excesso, estudar até tarde da noite […] por longos períodos de tempo enfraquecerá o Baço” (MACIOCIA, 2007, p. 191). Um Yi hiperativo ou obsessivo esgota o Qi do Baço, resultando em sintomas como cansaço, má digestão e falta de apetite.
Este é um dos adágios mais famosos e fundamentais das práticas energéticas chinesas: 意到氣到 (Yì Dào Qì Dào) – “Onde a Intenção (Yi) chega, o Qi (氣) chega”.
Isso significa que o Qi não flui ao acaso. Ele segue o comando do foco da nossa mente. Em outras palavras, a energia vital do nosso corpo pode ser conscientemente guiada. Este princípio é a base de inúmeras práticas teraputicas e meditativas:
Para que o Yi seja uma ferramenta eficaz, ele precisa de um comando claro do seu imperador, o Shen. Se o Shen está agitado, ansioso ou perturbado, a intenção se torna fraca, dispersa ou obsessiva. Consequentemente, o maestro está em pânico, e a orquestra (o fluxo de Qi) se torna caótica.
É por isso que as práticas que visam acalmar o Coração e pacificar o Shen, como a meditação, são tão importantes. Ao acalmar a mente, não estamos apenas “relaxando”; estamos restaurando a clareza do comando central. Com um Shen sereno, o Yi pode focar de forma clara e eficiente, e o Qi flui de maneira suave e harmoniosa.
Compreender o poder do Yi é um divisor de águas tanto para o paciente quanto para o terapeuta. Para o paciente, significa entender que ele não é uma vítima passiva de seus sintomas, mas um participante ativo em sua jornada de cura. Para o estudante, significa reconhecer que a acupuntura transcende a técnica; ela é uma arte que envolve o cultivo da própria mente e intenção.
Entendemos agora os princípios, as substâncias e as forças que regem nosso universo interior. Por fim, com essa base sólida, estamos finalmente prontos para pegar o mapa e explorar a geografia deste império: as autoestradas e rios de energia que cruzam nosso corpo. Estamos prontos para conhecer os Canais e Meridianos.
MACIOCIA, Giovanni. A Prática da Medicina Chinesa: Tratamento de Doenças com Acupuntura e Ervas Chinesas. São Paulo: Roca, 2007.
O sangue circula nos meridianos, o Qì defensivo circula fora dos meridianos.
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